Por Douglas Calixto

O mundo está em transformação. Em diversos países, é possível observar rupturas estruturais na vida social e nas instituições. É neste cenário de mudanças que a educação midiática passou a ser um elemento decisivo na constituição da democracia. Fazer uso crítico e consciente dos mecanismos de comunicação — uma das premissas da educação midiática — é um compromisso que os sistemas de ensino devem ter, não apenas com professores e estudantes, mas com a própria sociedade.

Essa foi a tônica do painel temático “Educação midiática e liberdade de expressão”, realizado nesta segunda-feira (12) durante o primeiro dia do II Congresso Internacional de Comunicação e Educação. A partir de diferentes experiências e lugares de fala, os convidados apontaram os desafios da educação midiática frente ao conturbado cenário em que vivemos.

Participaram da atividade Patrícia Blanco (Instituto Palavra Aberta), Adauto Cândido Soares (Setor de Comunicação e Informação da UNESCO no Brasil), Olivia Bandeira de Melo Carvalho (Intervozes), Paulo Saldaña (JEDUCA), Maria Immacolata Vassallo de Lopes (OBITEL/USP) e Christine Nyirjesy Bragale (The News Literacy Project).

Para Cristina Costa, mediadora da mesa e coordenadora do Núcleo de Apoio à Pesquisa Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da USP (OBCOM/USP), o recente fenômeno das fake news exige uma reflexão mais aprofundada sobre o que são “responsabilidade, liberdade de expressão e educação midiática”.

“Algumas notícias que circularam (durante as eleições) se tornaram bandeira de comportamentos, valores morais e mesmo religiosos. Trata-se de uma crise de identidade. Nesse sentido, em termos de educação, devemos questionar: o que é uma categoria social hoje? As pessoas estão se identificando com o que? O que nos faz sujeito dentro das relações de produção nessa sociedade?”, analisa Costa. “No vácuo das transformações nas relações de produção, as pessoas estão se identificando com valores, comportamentos e moralismos, bandeiras que, no final das contas, têm muito pouca importância para o que vai acontecer com o país. Precisamos estar atentos sobre de onde as informações estão sendo produzidas, para onde elas vão e quem são as pessoas que estão lendo esse tipo de conteúdo”.

Patrícia Blanco, por sua vez, destacou que a educação midiática teve um avanço significativo no ano de 2018: a inclusão do tema na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Para a presidente do Instituto Palavra Aberta, o fato de a educação midiática se tornar uma política pública abre diversos horizontes para que o uso crítico e consciente da mídia seja levado para todo o país.

“Hoje na BNCC já temos o campo midiático e jornalístico. Nas competências já aparece exatamente aquilo que a gente trata: desenvolver o senso crítico, análise do conteúdo, leitura crítica da informação, avaliação e produção de imagens e diversos outros temas da educação midiática.Esse avanço, conquistado no ano de 2018, vai surtir efeito nos próximos anos”, analisa Blanco.

Confira a entrevista completa com Patrícia Blanco:

Representante da Unesco, Adauto destacou que implementar a educação midiática no Brasil é uma tarefa complexa e desafiadora. “Por incrível que pareça, no Brasil, o uso de novas tecnologias da comunicação e informação para a educação não é uma agenda simples. São várias razões: problemas de acesso, o currículo que não contempla essas preocupações. No entanto, podemos dizer, a partir de experiências como a de Ismar Soares na USP e Beth Faria na PUC, que o mapa brasileiro está ganhando um novo cenário [sobre a educação midiática]”.

Clique aqui e confira a entrevista completa com Christine Nyirjesy Bragale, do ‘The News Literacy Project’.

Para Olivia de Melo, compreender o funcionamento da mídia e dos oligopólios comunicacionais no país é fundamental para a educação midiática. Para a especialista, uma visão abrangente dos interesses econômicos e políticos joga papel decisivo para o direito à expressão. “Entender o sistema de mídia permite uma visão crítica sobre os processos. O exercício da liberdade de expressão garante que possamos ter uma visão crítica da sociedade”.

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