A Educomunicação levanta muitas dúvidas quanto aos conceitos e práticas da área dentro e fora das salas de aula. Em um período de grandes transformações tecnológicas, surgem debates sobre a formação educacional de crianças e jovens em um ambiente intensamente conectado e atravessado pelos dispositivos técnicos e midiáticos. 

A partir de um olhar sobre essas mudanças, o professor Claudemir Edson Viana, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), secretário executivo da ABPEducom, aponta algumas questões sobre a área em uma entrevista publicada no site Conexão Escolas, da TV Escola. Coordenador do curso de Licenciatura em Educomunicação na ECA-USP, Viana é responsável pela disciplina de Epistemologia da Educomunicação, que discute a construção do conhecimento no próprio campo, as possibilidades de atuação e a importância do profissional educomunicador para além da apreensão das novas técnicas e instrumentos tecnológicos atuais.

Além da interseção entre as áreas da Educação e Comunicação, a Educomunicação firma-se como um novo campo de trabalho teórico e prático que acompanha as mudanças sociais e educacionais face às novas demandas culturais, tecnológicas e políticas, propondo novas experiências comunicativas nos ambientes de ensino e aprendizagem. “A Educomunicação entende a Comunicação além do uso de recursos tecnológicos e suas aplicabilidades, isto é, entende como prática social que traz as marcas, valores e modelos que a sociedade tem, e propõe novos modelos de práticas educomunicativas”, destaca o professor. 

Para Viana, isso faz da Educomunicação uma área de conhecimento que ultrapassa a dimensão técnica e instrumental, ou seja, do simples uso das novas tecnologias da informação nos ambientes educacionais. Ao invés disso, propõe pensar a Educação como ato comunicativo que deve estar ligado à participação, pluralidade de vozes e sujeitos e inclusão. Diante disso, é imprescindível a formação complementar de profissionais da Educação no âmbito da Educomunicação: “A Educomunicação permite aos professores reverem modelos e concepções que têm sobre os processos de ensino-aprendizagem a partir da percepção sobre os fenômenos próprios da interface Comunicação e Educação e a partir de princípios e práticas mais condizentes com a cultura do nosso cotidiano e a de seus estudantes”, complementa o professor. 

Desafios

No entanto, ainda cabe à área alguns desafios, como a sua inserção nas políticas públicas voltadas à Educação. Apesar do sucesso da Educomunicação em grandes programas pedagógicos, como o aplicado na rede municipal de São Paulo, que chegou a fomentar mais de 600 ações e projetos educomunicativos, o campo ainda é pouco conhecido por profissionais e representantes do poder público. Essa condição prejudica não só a possibilidade de ampliação do campo de trabalho dos profissionais de Educomunicação, como também a formação educacional de alunos e professores diante do novo cenário social e tecnológico, reconfigurado pelas mídias e circulação de informações.  

Viana cita a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como um caso exemplar em que a Educomunicação não é compreendida e aplicada enquanto prática comunicativa e educativa voltada aos saberes diversos, horizontais e inclusivos. Para o professor, apesar de a BNCC propor ações que levam em conta o uso de dispositivos tecnológicos e midiáticos em sala de aula, o programa se restringe a ver a relação entre Comunicação e Educação somente a partir das potencialidades técnicas, sem abrir espaço para as possibilidades de repensar as “velhas práticas” educacionais ainda dominantes na Educação. 

Serviço

A entrevista completa pode ser lida no site do Conexão Escolas

Foto: TV Escola / Conexão Escolas.