A Educomunicação ganhou dois espaços privilegiados no 42º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2019), ocorrido em Belém, entre 2 e 7 de setembro, no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA). O primeiro foi uma palestra no Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, a atividade central do evento, que discutiu o tema “Instituições paradigmáticas: comunicação, conflitos e reposicionamentos”. Já o segundo foi a apresentação de um conjunto de papers no Grupo de Pesquisa (GP) Comunicação e Educação.

O Ciclo de Estudos Interdisciplinares ocorreu no dia 4 e teve a participação, em sua primeira mesa, dos especialistas Ruben George Oliven, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Karla Patriota Bronsztein, da Federal de Pernambuco (UFPE); Ismar de Oliveira Soares, presidente da ABPEducom e professor sênior da Universidade de São Paulo (USP); e José Maia Bezerra Neto, da Federal do Pará (UFPA). O painel foi moderado por Nair Prata, docente da Federal de Ouro Preto (UFOP) e diretora científica da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom).

Em sua palestra, Ismar Soares falou sobre “Comunicação e Educação no contexto da crise das instituições paradigmáticas: a emergência da Educomunicação”. O professor afirmou que pretendia, naquela ocasião especial, prestar contas à Intercom sobre como agentes culturais, comunicadores e educadores da América Latina haviam construído, ao longo das últimas duas décadas, uma resposta efetiva às crises paradigmáticas que estavam abalando tanto a Educação quanto a própria Comunicação Social. Para tanto, o pesquisador enumerou uma série de experiências latino-americanas e brasileiras que se sucederam, ao longo de 20 anos, permitindo que o conceito fosse explicitado, ganhando densidade e legitimidade.

Recordou, a título de exemplo, que a prática educomunicativa presente no continente – desde a década de 1970 – em atividades de análise e de produção audiovisual, nomeadamente em países como Equador, Uruguai, República Dominicana e Brasil, através do Projeto “Plan Deni”, conseguiu articular, no presente momento, jovens residentes em zonas de conflito na fronteira entre Colômbia e Venezuela, através de uma parceria midiática chamada “Pasela em Paz”, voltada ao combate à violência.

Soares lembrou que, ao longo do tempo, as práticas de comunicação dialógica e participativa contribuíram para a criação de políticas públicas de Educomunicação, em espaços como a Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo e os Ministérios do Meio Ambiente e da Educação, sem contar a adoção do conceito por organizações sociais, tanto na América Latina quanto, mais recentemente, na África e Europa.

Por fim, destacou o papel dos pesquisadores, no debate sobre o conceito, em 370 dissertações e teses doutorais, produzidas entre os anos de 2000 e 2019 em 101 centros de pós-graduação de todo o país.

Esta foi a segunda vez que o campo da Educom foi levado ao Ciclo de Estudos Interdisciplinares. A primeira ocorreu no 39º congresso, realizado na USP em 2016, que teve como tema geral “Comunicação e educação: caminhos integrados para um mundo em transformação.

Papers no GP Comunicação e Educação

Segundo o professor Adilson Citelli, da USP, o Grupo de Pesquisa Comunicação e Educação é um dos mais consolidados nos congressos da Intercom, com a apresentação de uma média de 40 papers por ano, em sua maioria tendo como base os referenciais da Educomunicação.

Ao longo dos dias 4, 5 e 6, o GP coordenado por Ana Luisa Zaniboni Gomes, da USP, e Rose Pinheiro, da Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e sócia da ABPEducom, debateu 44 pesquisas. Deste total, oito artigos incluíram o termo “Educomunicação” em seus títulos, sendo que os demais identificaram o campo nas palavras-chave, nos resumos ou em tópicos específicos de suas produções.  Foi o que ocorreu, por exemplo, com o texto “Conexão África do Sul e Brasil: afetos, diálogos e identidades em pauta nas ondas da Rádio Kitoko”, de autoria de Paola Diniz Prandini, da USP, e Honislaine Aparecida Rubik, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), relatando a primeira experiência identificada nominalmente como educomunicativa em território da África do Sul.

A relação dos 44 trabalhos apresentados nas sessões do GP está acessível no site do evento. Os oito papers que incluíram o termo em seus títulos foram:

  • Educomunicação e Fake News: contribuições da alfabetização midiática para a transformação social | Marcele Aroca Camy (UFMS)
  • Comunicação e Educação ou Educomunicação: sinônimos ou continuidades? | Claudia Maria Moraes Bredarioli (ESPM)
  • O paradigma educomunicativo no mundo do trabalho da comunicação: parâmetros de um bacharelado em Educomunicação | Cláudio Messias (UFCG)
  • O potencial educomunicativo do rádio na Amazônia em processos de educação ambiental | Rosa Luciana Pereira Rodrigues (Iespes)
  • Educomunicação: variável tecnológica no cotidiano escolar | Douglas de Oliveira Calixto (USP), Roberta Soledade (USP)
  • A abordagem educomunicativa e as tecnologias digitais em sala de aula: diálogos possíveis | Elisangela Rodrigues da Costa (USP), Wellington Nardes (USP)
  • A Intersecção Possível entre Educomunicação e Educação Musical: O Estado da Arte na Revista Comunicação & Educação | Eduardo Assad Sahão (Unesp)
  • O Corpo nos Ecossistemas Comunicativos: Desdobramentos para a Educomunicação | Ricardo Barretto (USP)

Tem uma sugestão de pauta? Envie para [email protected]