Por Antonia Alves

Pesquisadores do Canadá, Itália, Espanha, México e Brasil apresentam a caminhada de seus países na mesa redonda “20 anos da educação midiática: perspectivas históricas”, no início do II Congresso Internacional de Comunicação e Educação, em 12 de novembro de 2018, em São Paulo. Reconhecido internacionalmente, Paulo Freire é considerado o precursor da interface comunicação/educação, que se desenvolve por meio de ações que culminam em políticas públicas e pesquisas acadêmicas, conhecidas como educação midiática, educomunicação, dentre outras expressões.

No Canadá, a alfabetização midiática é obrigatória nos currículos da 1ª à 12ª séries, “levando as crianças ao discernimento do que é veiculado na mídia através da leitura do mundo em seus aspectos políticos, sociais e culturais”, argumenta Carolyn Wilson, presidente do Comitê Diretivo Internacional GAPMIL/Unesco.

De maneira ampla, a Europa vem desenvolvendo estudos avançados na área. Para José Ignácio Aguaded Gómez, do grupo Comunicar, na Espanha, a educação midiática é vista como “um norte capaz de construir cidadania e empoderar as pessoas”, seja nas escolas, universidades ou na mídia. Já na Itália, apesar de não fazer parte do currículo oficial como disciplina obrigatória, os professores desenvolvem “projetos interdisciplinares que levam os alunos ao senso crítico para que entendam a mídia, suas imagens e linguagens,” discorre Gianna Maria Capello, da Associação Italiana para a Educação aos meios e à comunicação (MED).

No México, “a educação midiática ainda não adentrou efetivamente os currículos, apresentando-se como casos esporádicos”, explica Guillermo Orozco, da Universidade de Guadalajara. Enquanto política pública no Brasil, a educomunicação e a mídia-educação vêm se fortalecendo em nível nacional e localizadas em algumas cidades, informa o presidente da ABPEducom e docente sênior da ECA-USP, Ismar de Oliveira Soares.

Nesse cenário, as discussões dessa temática não dependem de aparatos tecnológicos, mas de ensinar conteúdo, princípios e valores para que “os alunos saibam o que fazer com as informações entregues pela mídia,” pondera Capello. Recentemente, com a propagação das fake news, foi constatada a necessidade de programas de alfabetizações variadas nas escolas.

Os pesquisadores são unânimes em dizer que Paulo Freire se apresenta como fundamental a esse processo de empoderamento dos alunos. Para Ismar, Freire é um presente dado ao século XX e está na base do pensamento educomunicativo. Sua “dialogicidade da comunicação é essencial ao projeto educativo em vista de uma nova cultura”, frisa.

Para o pesquisador espanhol, “ele é universal; não brasileiro. Daí a necessidade de recuperar seu papel de interação e de diálogo, pois educação não é conhecimento, mas interação,” defende Aguaded. Ao lembrar que está sendo pouco citado, Orozco defende seu resgate para atualizar a discussão em torno das tecnologias.

Tanto Wilson quanto Capello acreditam que a contribuição de Paulo Freire fomenta a análise crítica e a produção criativa dos alunos. Assim, é possível considerar como se Paulo Freire estivesse “na perspectiva da alfabetização midiática, da mídia eletrônica ou das telas, em vista da leitura do mundo e das palavras”, assegura Wilson.

Carolyn Wilson assegura ainda que Paulo Freire é inspiração para o trabalho com análise da mídia e para a produção da mídia enquanto recriação do mundo que se expressa em intervenção que conecta a liberdade de expressão e de informação. “Os estudantes são capazes de contar sua própria história e oferecer suas opiniões; entrar no mundo digital do discurso para se expressar e recriar ou modificar algum aspecto de sua realidade”, contextualiza.

Nesse processo de compartilhamento, as experiências de países como o Brasil, Portugal e Peru se estenderão na segunda manhã do evento, dia 13/12/2018, com a mesa “Inovação e Protagonismo Social, na educação midiática”.

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