Uma experiência educomunicativa inspirada em Nise da Silveira vem sendo desenvolvida, desde fevereiro de 2018, na clínica psiquiátrica Polo de Atividades Integradas (PAI) Nosso Lar, de Adamantina (SP). A iniciativa, desenvolvida pelo educomunicador Samuel Rabay, acontece em uma interface artístico-midiática, por meio da qual são realizadas oficinas de criação musical, percussão e performance teatral. Rabay tenta aliar essas atividades a uma perspectiva audiovisual, estimulando registros e a criação de vídeos sobre o desenvolvimento das atividades, bem como busca promover a comunicação tanto interna-institucional quanto com a comunidade externa à instituição.

No projeto em foco, a Educomunicação realiza o trânsito entre as áreas da Comunicação, das Artes e da Educação. Nesse contexto, a arte constitui um meio de comunicação que estimula a expressão de idéias e a divulgação de informações que vão se transformar em conhecimento, na medida em que elas passam a fazer parte da vida dos internos.

O hospital onde a ação se desenvolve é uma clínica do SUS, que tem cerca de 140 leitos, atendendo homens e mulheres, desde jovens até idosos, que passam por problemas de saúde ligados ao alcoolismo, à dependência química, à depressão, à esquizofrenia, à bipolaridade e a outros desconfortos relativos à saúde mental. Convivem, no local, um total aproximado de 250 pessoas, entre pacientes e funcionários.

Para seu desenvolvimento, o projeto conta com uma estrutura mínima que inclui equipamento de som, um televisor no refeitório e alguns celulares utilizados como câmeras e microfones. O televisor cumpre o papel de um canal de escoamento do conteúdo produzido pelos pacientes. Segundo o coordenador do trabalho, a exibição ressignifica o trabalho desenvolvido, fortalecendo a auto-estima dos envolvidos. Os roteiros desses produtos midiáticos tentam igualmente agregar os funcionários como personagens das cenas, de modo a estimular o convívio e fomentar a comunicação interna no hospital. A fotografia, o rádio e as oficinas para a confecção de livretos (zines) também são meios utilizados para intensificar o diálogo entre os grupos.

Videoconferência com a UFSJ

Recentemente, o projeto — que utiliza redes sociais para divulgar os materiais que produz em parceria com frequentadores da instituição — foi tema de videoconferência promovida pela disciplina de Educomunicação, oferecida  à turma do sétimo período  do curso de Comunicação Social, na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), em Minas Gerais.

A atividade aconteceu à convite da professora Filomena Bomfim, associada da ABPEducom que desenvolveu a sua segunda pesquisa pós-doutoral justamente em Educomunicação, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), sob a supervisão de Ismar Soares, presidente da Associação. Em sua intervenção na videoconferência, Bomfim ressaltou a criatividade do trabalho: “Eu vejo um projeto desses com muita alegria, pois é um movimento muito solidário, que contribui para preservar condições humanas de vida com dignidade, motivando para que a gente colabore no sentido de aceitar a diferença, abarcando a questão da diversidade e da inclusão social”.

Para Thamires Silveira, psicóloga e mestranda pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Artes, Urbanidades e Sustentabilidade (PIPAUS), da UFSJ, existem paralelos entre o projeto do Pai Nosso Lar e as propostas da psiquiatra brasileira, Nise da Silveira, no que se refere à questão do afeto catalisador, estudada pela pesquisadora.

Nessa linha, a psicóloga lembrou os benefícios terapêuticos que iniciativas como essas trazem para os pacientes,  afirmando ter ficado surpresa com a abertura da instituição, pois em sua experiência atuando em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Minas Gerais, as organizações do gênero, em geral, não contam com um profissional especializado na área da Educomunicação — um diferencial positivo, segundo seu ponto de vista.

Fotos: Murilo Souza

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