O ano de 2019 ficou marcado na história das inovações da área de Educomunicação. No período, ocorreu o primeiro ciclo completo de formação educomunicativa na área da saúde promovido por um órgão público, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES/SP).

A pasta foi a responsável por executar o programa “Educom.Saúde-SP”, que contou com a parceria da ABPEducom e do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP). A ação teve ainda o apoio do curso de Licenciatura em Educomunicação e do Departamento de Comunicações e Artes, ambos ligados à Escola de Comunicações e Artes da USP.

O projeto teve como objetivo a preparação de um grupo de 200 agentes de saúde, provenientes de municípios com mais de 100 mil habitantes, para a mobilização da população em prol da saúde pública. A partir da aplicação dos referenciais da Educomunicação, as ações de capacitação levaram em conta as questões territoriais de cada grupo populacional. 

Irma Neves, assessora técnica da Superintendência de Controle de Endemias, ligada à SES/SP, aponta perspectivas futuras para o programa: “Há interesse do poder público estadual de continuar oferecendo formação educomunicativa aos profissionais de saúde, nos próximos anos, ampliando a proposta para os municípios menores”. Ela destaca a contribuição da Coordenadoria de Controle de Doenças, da mesma secretaria, para a formação destes profissionais, por meio de apoio ao projeto pedagógico e investimento no médio prazo.

Neves foi a responsável por apresentar o campo da Educomunicação à área técnica e administrativa da SES/SP, em decorrência de sua participação em um dos cursos ministrados pela ABPEducom a profissionais de múltiplas áreas no Colégio Dante Alighieri, em 2018.

De acordo com Ismar Soares, presidente da ABPEducom e coordenador geral do projeto, o Educom.Saúde-SP representou um eficaz processo de aprendizagem para os 15 especialistas em Educomunicação envolvidos na proposta, o que permitirá a eles socializar suas vivências, nos seus diferentes campos de atuação, em outros espaços públicos do Brasil.

O curso de formação, implementado entre abril e dezembro de 2019, foi executado em três fases. A primeira envolveu um curso introdutório presencial com duração de três dias, destinado à apresentação dos fundamentos da Educomunicação a partir de palestras e oficinas de linguagens. Ao todo, foram realizadas três edições destes encontros presenciais, em abril, maio e junho, para grupos de aproximadamente 70 participantes.

A segunda parte ofereceu um curso à distância, com carga horária total de 40 horas e três meses de duração, dividido em seis turmas virtuais, voltado a referendar e acompanhar os cursistas no planejamento de ações educomunicativas nos espaços locais. 

Por fim, houve um encontro presencial na cidade de Águas de Lindóia (SP) entre os dias 3 e 5 de dezembro para a socialização das propostas elaboradas durante as fases anteriores, como forma de consolidação dos aprendizados e possibilidades de incorporação dos conceitos aprendidos no curso às atividades de trabalho cotidianas. Uma das propostas apresentadas pelos cursistas foi o  Plano Conjunto de Ações Educomunicativas em Saúde, documento de conclusão de curso que formaliza possíveis ações de desdobramento do projeto Educom.Saúde-SP para outros territórios. A reunião também trouxe discussões para a continuidade do programa em outras cidades do estado.

Agentes de saúde reunidos em atividades do projeto Educom.Saúde-SP no último encontro, em dezembro de 2019.

Adoção da Educomunicação na área da Saúde 

O projeto foi concebido a partir da necessidade de fazer frente ao cenário epidemiológico atual, que aponta para a presença do mosquito Aedes aegypti em 643 municípios do estado de São Paulo (99,6% do total). Essa situação exige uma mobilização efetiva integrada por parte da população para o combate da infestação, especialmente entre janeiro e maio, período de maior incidência das doenças transmitidas por mosquitos.

A proposta buscou oferecer ao longo do ano uma complementação ao processo comunicativo tradicional, representado pelas campanhas midiáticas. A adoção do paradigma educomunicativo na formação de profissionais da saúde representou a concretização de uma sugestão da oficina “Revisão das Bases Técnicas-científicas para Elaboração do Programa de Prevenção e Controle das Arboviroses no ESP”, ocorrida em outubro de 2017. Na época, os proponentes da oficina entendiam, a partir da literatura vigente, que a Educomunicação poderia transformar as comunidades envolvidas. De simples receptoras da comunicação, elas passariam a ser produtoras de mensagens de interesse coletivo, representando um fator mobilizador. 

A formação oferecida pelo projeto assumiu a Educomunicação como uma nova Tecnologia Social, definida como uma modalidade de procedimentos que articula coletivos de pessoas para colocar em curso processos de trabalho decorrentes de um acordo prévio que privilegia a participação dos sujeitos sociais. Apesar de o projeto inicialmente ter como foco o combate ao mosquito Aedes aegypti, para Claudemir Viana, secretário executivo da ABPEducom e um dos envolvidos na coordenação do projeto, ele é capaz de tomar novas proporções: “Naturalmente os projetos educomunicativos vão tomando uma perspectiva intersetorial e de atuação em rede nos territórios e com a comunidade local, utilizando-se de processos comunicativos que favoreçam a educação transformadora, que proporcione consciência significativa para os sujeitos envolvidos”, destaca. 

Imagens: Educom.Saúde/Divulgação.

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